quarta-feira, 30 de março de 2011

Rock Sem Álcool

“Rock é um termo abrangente”(wikipedia), tão abrangente que tudo recém produzido hoje, é Rock, não porque seja, mas porque dizem. O ato de curtir rock, é ser descolado, inovador, rebelde, em certos pontos intelectual. Mas, sentir o rock não é simples, viver o rock é complicado, ser rock não é para qualquer um, o rock exige paladar, assim como um bom vinho, uma boa cerveja ou um bom prato.

Eu comparo a cena ‘rock’ atual, com uma cerveja sem álcool. Algo sem efeito e que, teoricamente, não deixa de receber o mesmo nome, mesmo não surtindo o mesmo efeito, não deixa de ser ‘cerveja’, pois é feito de cevada, assim como o ‘rock’ atual é feito de música(junção de canções, ritmos e instrumentos).

O rock de certo ponto é perigoso, manifesta desejos, revoluções, pensamentos, sentimentos, sonhos, variando apenas o ponto de referência que o transmite, a intensidade e o volume, pode ser fatal para quem não o aprecia com moderação e responsabilidade.

Mas e nossas crianças, como serão ouvindo esse tal de rock? Serão perigosas? Revolucionárias? Rebeldes? E como faremos para manter o controle do estado com revolucionários a solta, prestes a tomar posse do poder?

Da necessidade de se criar algo de fácil aceitação, caracterização e inofensivo, surgiu um rock sem álcool, exaltando amores infantis não correspondidos, atitudes juvenis, futilidades sem valores agregados, e claro, um generoso toque de feminilidade para dar um ar descolado e frágil, ops! Me desculpem a falha, não é descolado, agora é cool.

Jovens sem identidade, sem opiniões, sem culhão, que aceitam tudo que lhe são oferecidos, moldados e influenciados de acordo com a necessidade de consumo. Estes, que são o futuro da pátria. Um Brasil sem efeito, sem álcool.

A música tem um papel fundamental na vida de uma pessoa, já diziam: “Você é, o que você ouve.”


Rádio Charlie Brown Jr

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Cedo ou Tarde.

Preferia, sei lá, estar em um lugar onde ninguém me conhecesse e eu pudesse chegar contando qualquer história, apoiado pela dúvida, pela preguiça de outrem e pela confiança em que, de forma geral, pouco importa a vida do outro; e aí contar que fora astronauta, bombeiro, médico ou jogador de futebol, ou todas essas coisas que todo menino em algum momento sonhou ser; para quem me conhecesse a partir dali, desse marco zero, eu seria aquilo que quisesse parecer, contaria as histórias que quisessem ouvir, e encarnaria um personagem para qual fosse a ocasião.

Ou ainda, viveria isolado, longe da eletricidade e da água encanada, longe das embalagens e rótulos, longe do café sem cafeína, dos doces sem açúcar, do leite sem lactose. Estaria sozinho em um bosque ou floresta, imerso no ar puro e inebriante, no cheiro de mato molhado e de carvalho, tendo por passatempo adivinhar quais animais seriam aqueles a fazer serenata em altas horas da noite. Talvez tivesse um emprego trivial, como atendente em um bar de beira de estrada, e me tornasse invisível para a maioria e um mistério para alguns, ainda que desinteressante, porque têm mais o que fazer do que pensar quais seriam os caminhos que teriam levado aquele alguém sem rosto a continuar seus dias ali, sem encanto, sem propósito outro que não a simples sobrevivència.

Talvez fosse melhor mudar de nome, mudar de raça, repetir tantas vezes uma história de vida que em algum momento eu mesmo me convenceria de que é verdade, e vivendo nela talvez encontrasse algum significado que esta outra, imposta, não apresentou. Talvez fosse o caso de sumir, sem esperar redenção, sem esperar que alguém se importasse em procurar.

Mas, ao contrário, repito a rotina, acordando, alimentando-me, vestindo-me: um produto da sociedade, fadado a não ser além do que aquilo que ela própria propões; qual rebeldia resta além daquela do pensamento, ou qual subversão senão aquela desconhecida, desconfortável, que nos transforma em estranhos até para aqueles que conhecem nosso rosto como as palmas das próprias mãos.

Então respiro fundo, olhos no horizonte: o cinza há de, cedo ou tarde, dar lugar ao pôr-do-sol.

Apert o alt.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Rio De Janeiro

Rio de janeiro, o que dizer desta cidade maravilhosa?
Para começar vamos deixar a hipocrisia de lado, e ter a consciência de que todas as pessoas que fumam unzinho de vez em quando, ou cheira sua carrerinha inocente na balada tem uma parcela de culpa em tudo o que está acontecendo, todas essas pessoas ajudam a puxar o gatilho e a matar pessoas inocentes, é, eu sei que dói, mais essa é a verdade.
Então a culpa é de quem, dos usuários de drogas? Sim, mas não só deles, na verdade a maior parte da culpa é do governo, governo esse que proíbe a venda de drogas, e que é absurdamente corrupto e corruptível, esses sim são os verdadeiros Filhos da Puta, esses é que deveriam estar sendo caçados, mas não, político não vai preso, político não é esculachado, não no nosso país.
E aqui nos pecamos pelo excesso de paciência, achamos magnífico a policia entrando morro adentro matando bandidos (e pessoas inocentes também), mas se quer paramos pra pensar em quem são os verdadeiros bandidos e culpados por tudo isso, (Hipocrisia do caraleo).
O que está sendo feito lá, de policia invadindo morros, e fuzileiros navais terem sido chamados não é o certo, também não é o errado, só que isso não vai resolver o problema.
Mas o que me revolta mesmo é neguinho que fala que o que está sendo feito é o certo mesmo, que tem que entra lá e mata todo mundo.FILHO DA PUTA!!!! Você não mora lá, você não sabe como é passa por esse tipo de situação, andar na rua com medo de morrer, e eu tenho certeza que esse tipo de gente que fala isso, são os mesmos hipócritas que acham que não tem culpa nenhuma no que está acontecendo, acham que seu bazeadinho não causa mal a ninguém, que sua carrerinha no fim de semana é inocente, é esse tipo de pensamento que me da mais revolta.
A maioria das pessoas tem culpa no que está acontecendo lá, assim como eu, só que eu não sou filho da puta de ter um pensamento desses, nem hipócrita de não reconhecer essa parcela de culpa.
Rio de janeiro, cenário imperfeito, perfeito pra se inspirar.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Autocrítica

Você é um sujeito desagradável, que só pensa em si mesmo, e que faria qualquer coisa (quando digo qualquer coisa é qualquer coisa mesmo) só para conseguir o que quer, você afasta as pessoas de você, ninguém te suporta e os que julgam conseguir tal proeza não sabem o mal que estão cometendo a eles próprios.

Quanta arrogância, quanta prepotência, quanto egocentrismo, você não deveria nem ter nascido, na faria falta alguma.

Você é ambicioso demais, fala palavrão demais, critica demais, pensa demais (sabe lá o que) e pra ser sincero não vejo estar fazendo força alguma para mudar isso, talvez nem o queira, talvez até goste de viver assim, de ser assim, talvez sinta até prazer.
E por ser assim como é, assim deve viver, só.


Definição de autocrítica
Autocrítica / s.f
Fem. Sing. De autocrítico
CAPACIDADE para criticar a si próprio.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Parentes

"Certo, então vou dizer.
Para começar, já que não preciso mais medir palavras, vou dizer que não suporto a maioria desses que chamamos de parentes. E digo a maioria com alguma concessão, não querendo ser injusto, ainda que nenhum nome me ocorra agora para justificar tal anuência. Não suporto não porque os queira mal, afinal uma coisa nada tem a ver com a outra, e por ser tão cansativa a simples idéia de ter que explicar o que quero dizer, peço, por favor, que pense um pouco antes de perguntar. Não os quero mal, mas o bem que quero é o mesmo que quero a todas as pessoas de bem: saúde, prosperidade, honestidade, e que vivam seus dias em completa paz, criando a si mesmo e aos seus da mesma forma; mas entenda que não mantenho relação afetiva alguma com essas pessoas, e que o fato de carregarem o mesmo sobrenome que eu – ou eu o delas, tendo vindo depois – é mera casualidade, um joguete do destino. Não duvido que tenham por mim algum apreço, mas não creio que, em sua completa lucidez e honestidade, essas mesmas pessoas possam chamá-lo amor, ainda que assim o afirmem aos quatro ventos e à quantas pessoas mais lhe cruzam o caminho.
Se me pede que justifique o que digo, se é que é caso para tal, mostro-lhe o que, afinal, sempre esteve em frente aos seus olhos: os almoços dominicais com assuntos triviais, aqueles que continuam a tratar-me como se eu tivesse oito ou dez anos de idade, as piadas das quais não ri nem mesmo na primeira vez em que foram contadas e que continuam sendo repetidas à exaustão; a falsa cumplicidade nas conversas sobre os supostos negócios da família (nos quais, por convicções pessoais, nunca quis tomar parte) e as promessas mentirosas de visitas no final de semana seguinte ou quem sabe no próximo. Olhares que não encontram os meus há anos e que, supõe você,deveriam manter um laço inviolável, incorruptível, mas que são tão vazios quanto aqueles das pessoas que encontro em um momento qualquer do dia, no caminho entre aqui e ali.
Peço que não leve a mal este desabafo, mas apenas que compreenda que cumplicidade, laços, empatia, são coisas que partem de um princípio, partem de interesses em comum, e que a partir daí se formam. Não é coisa que se possa forçar, que se conquiste pela insistência: tal vai apenas gerar constrangimento, aborrecimento e, por que não, frustração. Pertencermos à mesma família não significa termos interesses comuns, não nesses dias em que crescemos uns aqui e outros lá, telefonando quando é conveniente, mas por nenhum outro motivo que não esse. Por favor, entenda que me aborrece a condescendência, que me irrita ver que usamos de dois pesos e duas medidas para julgar os nossos – como você nos chama, ainda que não o admita – e os outros; condescendência essa que não é diferente daquela que leva nosso país à ruína, que admite exceções morais, que considera-se acima do julgamento de quaisquer outros.
Gostaria que respeitasse quando digo que prefiro estar na companhia daqueles que conheci ao longo do caminho, que não são melhores do que ninguém, mas são aqueles que fizeram escolhas parecidas com as minhas, que buscam valores parecidos com os meus e, mais ainda, por caminhos que eu, se não percorri, poderia percorrer sem o medo de perder minha identidade, sem a sensação de estar violando qualquer nuance da essência que faz de mim quem sou e que, confesso, estou ainda procurando.
Não falo por bem, não falo por mal. Falo apenas por ser com é.
E espero que, ainda que o que digo encontre alguma resistência em seus olhos, você tenha a lucidez de perceber que não há amargura alguma em minhas palavras: apenas a pura e mais honesta das verdades: a mesma que, como um paladino, você afirma reclamar.
Abraços."

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Democracia?



Como esse tema censura é um tema muito importante, resolvi fazer mais um post falando sobre ele, mas dessa vez escrito por mim. Então, lá vai!

Jornais e revistas de outros países noticiam a censura ao humor em época de eleição aqui no Brasil, seria até engraçado se não fosse patético, uma vergonha para nosso país.

Se nossos candidatos fossem um pouco mais inteligentes para entender que quanto mais eles aparecerem em programas de humor e até participam das brincadeiras mais sua popularidade cresce entre os eleitores, que quando você se permite ser entrevistado ou confrontado com uma opinião crítica, você pode levar alguns "tiros", mas você pode mostrar um lado mais humano que os eleitores gostariam de ver. Mas ao invés disso eles preferem censurar, se esconder, pois tem medo, medo da verdade, medo de que esses programas mostrem o que eles realmente são.

Essa é uma medida ridícula feita para cortar o direito do eleitor à informação, isso não é uma ameaça à liberdade de imprensa, isso é uma ameaça para a inteligência do povo brasileiro.

Você sabe de qualquer outra democracia do mundo, com regras como estas?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Censura ao humor!



O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) está preocupado, pois entendeu que satirizar um candidato na TV gera desigualdade no processo eleitoral. Ufa! Agora os indefesos candidatos já podem respirar aliviados e se concentrarem na campanha em que, na mesma TV, durante a propaganda eleitoral gratuita, um terá 10 minutos a mais que o outro para expor suas ideias. Isso sim é democrático, igualitário e... Droga... Aqui caberia uma piada, mas não posso fazê-la.

Agora é contra a lei ridicularizar o candidato. Então, lembre-se: por mais ridículo que ele seja, guarde segredo.

Exemplo: Ainda que Collor ridiculamente ligue pra casa de um jornalista o ameaçando de agressão, por mais tentador que seja não mire sua lupa cômica nisso. Ele é candidato, e candidato aqui não fica exposto, fica blindado. O TSE nao é o feirante japonês que deixa a mercadoria exposta para que possamos apalpar e cheirar antes de levar. Ele é o coreano do Paraguai que a deixa na vitrine. Você não toca, não cheira. Apenas paga. Quando chegar em casa, reze antes de abrir a caixa.



E a discussão se essa censura é ou não constitucional? Tenho fé que em breve teremos uma resposta sensata. Logo após eles chegarem à conclusão de outra discussão que há anos os perturbam: afinal, o fogo é ou não quente?

O humorista pega a verdade e a exagera. Ao contrário do político, a verdade é imprescindivel para o sucesso de seu trabalho.. E esse é o problema. Num país onde culturalmente é bonito lucrar com a mentira, a verdade não diverte. Assusta. Indigna.

Onde já se viu um coronel permitir que manguem de sua cara em sua província? Então censuremos! Por isso, recentemente, tivemos imprensa brasileira censurada, jornalista estrangeiro expulso, repórter agredida e agora, humorista amordaçado. É melhor que o Estado defina o que pode ou não ser passado para o público, assim o público continua passando o que interessa para o Estado.

Aristófanes, pai da comédia antiga, exercia abertamente sua função de fazer o público rir, criticando instituições políticas e seus representantes. Se fosse brasileiro, hoje, Aristófanes não poderia realizar seu ofício. A visão democrática do TSE está mais atrasada que a da Grécia de 400 a.C.

Henri Bergson, filósofo francês, afirmou que "não há comicidade fora daquilo que é propriamente humano. Comicidade dirige-se à inteligência pura". Filosoficamente, o pessoal do TSE não é humano, nem inteligente o bastante para compreender o que foi escrito há quase um século atrás.

Freud, pai da psicanálise, entendeu que "rir estrondosamente, satirizar personagens e acontecimentos fazem parte da nossa experiência cotidiana e é crucial pra nossa condição humana". Um século depois, temos uma lei que impede a manifestação do cômico num evento tão importante pra sociedade como a eleição. Psicossocialmente falando, a democracia brasileira encontra-se retardada.

Estudos observam que primatas riem de boca aberta para manifestar raiva e hostilidade. A evolução preservou o instinto do riso no ser humano para que fosse a válvula de escape substituta à agressão física. A lei eleitoral quer abafar o instinto compulsivo da piada e do riso (e sabe lá Deus aonde isso vai pode explodir). Biologicamente, eles estão forçando um passo atrás na escala evolutiva.

Enquanto o Brasil se orgulha de dialogar com países desenvolvidos o suficiente para que nenhuma forma de comunicação seja restrita, a gente fica aqui rindo das imitações de Silvio Santos, porque é o que se pode fazer no momento. Claro, enquanto o Silvio Santos não for candidato.

Muito político faz chorar. Com a mesma matéria-prima o humorista faz rir. Para o TSE a segunda opção é uma ameaça e precisa ser contida.

A liberdade de expressão aqui tem o mesmo conceito de liberdade do zoológico. Faça e fale o que quiser. Você é livre! Desde que não passe os limites da sua jaula.

Não me multem, por favor. Isso não foi uma piada.



(Essa postagem foi uma matéria publicada pela FOLHA e foi escrita por DANILO GENTILI que é comediante stand-up e repórter do CQC da Band.)